terça-feira, 6 de novembro de 2012

Ode à nostalgia


Que não façamos as contas, que percamos dinheiro!
E se for preciso, que não façamos nada o dia inteiro!
Mas que não esqueçamo-nos de onde viemos
Que façamos ode aos nossos elos!

Minha mãe vivia de dieta. Só não vive mais porque não consegue, diz ela que com a idade fica mais difícil de emagrecer. Talvez ela queira dizer que fica mais difícil de resistir as gulodices.
Lembro-me de uma infância feliz e de certo modo inconsequente. Nunca juntamos dinheiro, sempre gastamos mais do que o que tínhamos, mas foi uma época feliz. Shoppings ao final de semana, muita churrascaria, sorvete, parque de diversões, hotéis fazenda, cinema e pipoca.
E de vez em quando minha mãe nos arrastava pro América. Ela sempre estava no meio de uma de suas dietas malucas, trocando a janta por sorvete ou o almoço por um pacote de Ana Maria. E lá no América tinha a sobremesa preferida dela: Frozen Yogurt Diet com Calda de Goiada Diet. Antes mesmo de vocês pensarem o que é iogurte congelado. Antes mesmo da Yogoberry pensar em existir. A japonesa já se empanturrava de Frozen Yogurt.

O Frozen Yogurt do América não tem nada a ver com essas lojinhas novas que parecem repentinamente brotar a cada esquina. Ele é azedinho, pouco açúcar. Ele é sensacional.

No momento, minha mãe está viajando à trabalho. E quando não está, eu e ela nos dividimos para cuidar da minha avó. O que significa que há muito tempo não conseguimos sair juntas. Que há muito tempo não tomamos um Frozen Yogurt juntas.
Ontem eu me arrastei pro América do Shopping Center Norte. Cheguei no horário atípico, com medo do restaurante não estar aberto (descobri que o América fica aberto o período completo, sem intervalo entre as refeições). Já cheguei pedindo logo o cardápio de Sobremesas.
Deixei o Frozen Yogurt Diet para minha mãe tomar na minha imaginação. Pedi pra mim um normal, com frutas vermelhas. Tomei igual criança, fechando os olhos e me sentindo feliz, me deixando atrasar para a consulta médica que me fez matar aquele intervalo tomando um gelado. Tomando uma nostalgia.

Hoje eu tô aqui, talvez uns quilos mais gorda e morrendo de saudades da minha mãe. Ainda bem que ela volta hoje. O sorvete estava bom, mas seria melhor com ela.


RESTAURANTE AMÉRICA
http://www.restauranteamerica.com.br/
facebook: AmericaBurger
twitter: @americaburger

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

De Volta às Doces Promessas

Quando a minha rotina muda, tendo a fazer novos planos. Mudar de emprego, casa, escola ou cidade traz consigo novas idéias carregadas de esperança de sermos humanos mais ativos e aproveitadores da vida. Pelo menos isso acontece para mim.
Recentemente comecei em um emprego novinho em folha, restaurante inaugurando, cheio de uma gostosa ansiedade. E claro que com tudo isso vieram os novos planos.
Há um tempo atrás, quando eu ainda estava desempregada, descobri nas minhas longas viagens pelo mundo virtual da comida o PECADO DA GULA. Um blog de longa data, muito lindo! Cheio de boas receitas e histórias, a Akemi demonstra muito carinho e dedicação por tudo que ali é postado e, consequentemente, com todos os seus leitores. Favoritei dezenas de receitas de lá, mas tive coragem (sim, coragem. Dizem que só não tem tempo quem não quer, não é mesmo?) de reproduzir poucas. Tive tão pouca coragem que misturei duas receitas em uma só.
Depois de ler Sangue, Ossos e Manteiga (ALTAMENTE recomendável, quem sabe até vira tema de post aqui, seria absurdamente merecido) confesso que fiquei um pouco fissurada em criar listas com tarefas a cumprir a curto prazo, para finalmente aposentar aquelas longas listas de promessas anuais que nunca se realizam.
Mas tá japonesa, resumindo: o que o emprego novo, o PECADO DA GULA e o novo vício de listas tem a ver com esse blog, com esse post?
O emprego novo me trouxe a vontade de fazer novos planos, colocar uma rotina mais bonita no meu dia-a-dia. Isso tudo virou uma lista muito boa. Uma lista cheia de pequenas tarefas que serão facilmente cumpridas com força de vontade! Dentre essas tarefas, me inspirei na dedicação que a Akemi tem pelo seu PECADO DA GULA para prometer que irei postar neste blog pelo menos 2x por semana! Dificil? Talvez. Mas prometo que irei cuidar com carinho desse meu projeto que eu tanto amo e amei, mas que fica largado por tantas vezes, coitado!
E para, digamos assim, reinaugurar esse blog de um jeito bem gostoso, nada melhor do que postar uma receita que tirei do próprio PECADO DA GULA.
Fiquei apaixonada pelo Pão torcidinho com batata doce postado lá. Achei uma graça! Mas como ando numa mania de pão integral, queria turbinar a massa branquinha e lisa. Mas qual a proporção a substituir? Daí que entra o Pãozinho Integral da Vovó Dinah, que por acaso, tem tudo a ver com este humilde blog.

 

Não é a coisa mais linda esse vídeo? Aliás, o Lado de Dentro tem vídeos MA-RA-VI-LHO-SOS carregados de boas lembranças, costumes a serem cultivados e muita inspiração. Vale a pena perder (lê-se ganhar) uns minutinhos do dia assistindo-os.



Dessa mistura nasceu o Torcidinho Integral de Abóbora com Coco. Meu filho meio Frankstein, feito com a massa integral da Vovó Dinah no formato do Pão Torcidinho com Batata Doce do blog da Akemi. O recheio? Um super doce de abóbora delícia, com aquele coco ralado bem grosso, que dói (de tão bom) de mastigar. Ah, pra arrematar com chave de ouro essa mistura cheia de muito amor, história, carinho e ternura, o doce de abóbora (que é facinho, facinho de fazer) veio baseado no que achei na internet feito pela Palmirinha, a mais charmosa e famosa vovó do Brasil! A mistureba deu tão certo que eu tive que refazer a receita no DIA SEGUINTE aqui em casa.

Hoje eu não me atrevirei a postar nenhuma receita. A lição é simples: siga os links aqui postados, faça o doce de Abóbora com Coco da Palmirinha (minha única mudança foi acrescentar cardamomo e anis estrelado na hora de cozinhar o doce, mas apenas porque tinha aqui em casa e quis incrementar! Totalmente opcional), deixe esfriar. Parta para a mão na massa e siga o passo a passo da Vovó Dinah e seu Pão Integral, mas apenas até a fermentação. Depois disso abra a massa do jeito que a Akemi ensina a fazer seus Pães Torcidinhos, recheie com o doce de abóbora, pincele café e gema como ensina a Vovó Dinah e jogue um pouco de farelo de aveia (pelo menos essa parte foi de minha autoria! rs) e forno neles! O cheiro deles assando é enlouquecedor.

E assim como eu, encham-se de coragem! Utilizem o tempo que vocês têm de verdade! Ou pelo menos comecem a tentar, já é um grande passo. E se a inspiração lhe faltar, recorra às boas e carinhosas referências e crie seu próprio Frankstein.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

A Insustentável Leveza do Ser


É sempre assim. Parece que mulher gosta de viver na roda gigante, saindo lá de baixo para ir até o topo e voltar ao lugar pé no chão sem grandes paisagens admiráveis. Nunca aprende a dar ponto com nó, a alcançar o tão sonhado equilíbrio e a tal da paz de espírito.
Era em um desses momentos que se via. Estava doida pra sair daquele ponto, realidade mirradinha, os pés enraizados ao solo de concreto infértil, vendo-se gorda e incapaz. Porque termômetro de mulher pra mudança é quando se sente gorda e incapaz. Quando a gente consegue sentar-se no sofá depois de uma quarta-feira de trabalho e comer qualquer coisa que ultrapasse as 200 calorias sem culpa nenhuma ou sem ao menos verificar se aquilo tem 200 calorias e DEPOIS ir jantar, é porque estamos lá embaixo na roda-gigante, todas dividindo a cabine mais perto do chão de todas. Aquela que nem subir consegue por causa do peso. Nos esmagando lado a lado com a numérica circunferência de nossas bundas gordas.
Precisava reciclar-se. Comprar roupas, trocar a cor e o corte do cabelo, gastar rios de dinheiro com maquiagem e, depois, sair na rua pra ouvir caminhoneiro assoviar e gritar "Gostosa!. Mas não adiantava. A bunda continuava gorda. Sabia que estava naquele ponto, no ponto em que o espelho parece ser seu pior inimigo, andando atrás de você e lhe xingando o dia todo, enquanto a balança vem logo atrás gargalhando do balancê das suas nádegas flácidas enquanto você foge da realidade. Péssimamente pesado.
Queria ser leve. Precisava flutuar de leveza, igual às mulheres que comem salada o dia todo, fazem yoga e andam com o frasquinho de água termal para borrifar em suas peles lindas e ruborizadas de saúde. E enquanto usam algum desses absorventes milagrosos que passam no intervalo da novela, fazendo as mulheres flutuarem até naqueles dias. Bem na hora que você está comendo a oitava fatia do bolo de rolo que a tia Maria trouxe de nordeste especialmente pra gordinha da família, dizendo "Ai, trouxe pra você, sei que adora doces!".
Não conseguia esse equilíbrio. Sua idéia de felicidade plena incluia uma dieta onde fosse possível comer de tudo sem depois ficar ao menos meia hora sentada com o olhar vago e a mente fixa na idéia de que podia ter maneirado na comilança. De que adiantava a vida sem os sabores da alegria?
Mas precisava mudar. Era a única mudança que lhe cabia naquele momento, as outras estavam lhe apertando a cintura. Sabia que conseguia, era uma dessas pessoas radicais. Que quando colocam em mente um plano, vão com ele até o fim. Ou até o próximo pedaço de torta de damasco. Só um pedacinho, metade da fatia, não vai fazer mal.
Então estava decidida. Daqui pra frente, carboidratos só até as 18h00, muito chá verde, salada de pepino e suco de clorofila. Doces nem pensar, a refeição da noite estava suspensa. Se sentisse fome, que bebesse água, ajuda a enganar o estômago dramalhão.
Mas hoje é quarta-feira. Não se começa dieta em meio de semana, não dá certo, atrapalha toda a logística. Deixa pra semana que vem. Qual vai ser a sobremesa pra depois do jantar?

sexta-feira, 8 de junho de 2012

A Poesia de Nigella

Tem dias que a gente acorda com aquela sensação de que a vida anda tão boa. De que a vida é muto boa.
Eu tenho visto por aí, naquelas lojas de adesivos decorativos para parede, as "Receita de Felicidade", "Receita de Amor" e outros passo-a-passo de como encarar nossa jornada de um jeito leve e aerado. Sentimentos viram ingredientes e há modos de preparo onde mistura-se tudo que há de bonito nessa vida para colocar dentro do coração e levar como lição para nossa alma crescer e transbordar da forma.
E em dias como os de hoje, frio, chuvoso mas com aquela sensação de xícara fumegante de capuccino, não há nada mais gostoso do que preparar o café da manhã para se comer na frente da televisão.
E foi o que fiz hoje. Acordei, preparei meu desjejum e fui para o sofá. Nigella era, de longe, a programação que mais fazia sentido ver naquele momento.

Quem vê essa foto até pensa na Nigella comendo como uma dama, né?

Sempre tive um pé atrás com a Nigella, achava toda sua conduta na cozinha um tanto quanto errônea. Como estudante de Gastronomia, a gente fica barbarizada com tantos dedos lambidos e atalhos para se perder menos tempo mexendo panelas. Um horror, quase um insulto a todas nossas noções de higiene e horas a fio gastas com preparações deliciosas.
Mas de uns tempos pra cá eu tenho a visto com olhos mais carinhosos. Percebo na Nigella um amor incondicional pelo gosto, por todas as surpresas que nosso paladar tem a nos oferecer. Há uma relação quase que personificada com os momentos, um prazer tão grande quando ela come que aos olhos mais tradicionais chega a ser obsceno, que quando se deixa de lado as frescuras, que são EXTREMAMENTE necessárias em cozinhas profissionais, mas que deixamos um pouquinho (mas só um pouquinho, tá? Ainda acho que às vezes a Nigella dá uma extrapolada) quando cozinhamos em casa, podemos enxergar nela. Há um carinho de cria e criador e, principalmente, um sentimento de aconchego que a comida nos dá que a Nigella consegue expressar muito bem e que nos dá vontade de sair por aí chamando todo mundo que aparece na rua de casa pra comer e oferecer um pouco de hospitalidade.
Eu acho muito bonita essa inversão de papéis. Eu, no meu amor pela cozinha com minha paixão pela escrita, quando vejo receita virando poesia e poesia virando modo de preparo, sinto um sopro levinho inflando o coração. Coisa boa.

E por mais que na maioria das vezes a vida pareça muito corrida, ela ainda é boa. É isso que as tantas "Receitas de Felicidade" e o modo como a Nigella leva a vida nos faz repensar. Na verdade, a gente não precisa se preocupar, a gente precisa é viver.
Como eu, que ando com a cabeça mais ocupada que o corpo, o que dificulta muito conseguir vir aqui com mais frequência contar alguma idéia maluca que me passou pela cabeça e com a invenção de novas receitas pra compartilhar. Mas nem por isso vou deixar passar em branco. Tá aí uma receita da Nigella, pra testar, pra fazer, pra achar que não vai dar certo ou só pra passar o que eu estou tentando dizer, pra mostrar a serenidade que há num bolo como esse.

Quem vê a Nigella sabe como ela foi encorpando ao longo de suas temporadas.
Tá aí outra coisa bonita pra se admirar nela: há uma paixão por comer sem culpa, 
que dá até inveja.

Se interessou pelos adesivos de parede com receitas de como ser feliz?
Aqui vai um exemplo, mas se você procurar na internet vai achar tantos outros tão bonitinhos quanto esse. Meio clichês, mas bem fofinhos.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Só quero paz e arroz...

Se me jogarem arroz no meu casamento, é capaz que eu volte atrás para recolher os grãos.
Agulhinha, Japonês, Integral, Basmati, Carnaroli, Arbóreo, Vialone Nano, Jasmin, Vermelho, Selvagem. Eu amo todos vocês.
Doce, Salgado, Risoto, De Forno, Bolinho, Paella, Canja, Sushi e seja lá mais aonde e como, meu querido arroz, eu admiro-te e respeito-te eternamente.
Obrigada por saciar minha necessidade diária de carboidratos e desculpe-me por tratá-lo a vida inteira como acompanhamento, apesar de tanto amá-lo. Manter-te todo branquinho sempre foi obra de um coração purista e tradicional que te ama do jeito que é, não leve tudo isso como egoísmo de minha parte.

Para te recompensar, te tratei como rei da festa por um dia. 
Por mais que a receita a seguir tenha sido criada para não desperdiçar as sobras do arroz do dia anterior, espero que sinta-se lisonjeado. Você ficou lindo, pomposo e, perdoe-me a indelicadeza, um tremendo gostosão.


Bolinho de Arroz e Batata com Carne Seca

- 500g de arroz pronto
- 400g de batata monalisa cozida e espremida
- 2 ovos inteiros
- 50g de cebola picada
- 500g de carne seca dessalgada, cozida e desfiada
- 200g de queijo mussarela ralado
- salsinha picada a gosto (coloco bastante, tanto pelo sabor quanto pela apresentação)
- sal
- pimenta do reino
- óleo para fritar

Em um bowl misture todos os ingredientes com a mão e vá acertando os temperos. Molde bolinhos da forma como preferir: quenelles, croquetes, redondinhos. Vá reservando-os em um prato enquanto o óleo esquenta: 180ºC ou o infalível teste do fósforo: jogue o palito no óleo, quando ele entrar em combustão sozinho, o óleo está suficientemente quente. Frite suas pequenas jóias de arroz até que fiquem douradas. Coma até não aguentar mais.


quarta-feira, 16 de maio de 2012

Carrot Cake Crazy

Para os amantes de cenoura:


E para os que ficaram aguando um pedaço de bolo de cenoura na madrugada por causa do post anterior:





Bolo de Cenoura com Cobertura de Chocolate


bolo
- 4 cenouras médias
- 200ml de oléo
- 5 ovos
- 400g de açúcar refinado
- 350g de farinha de trigo
- 1 ½ colher (sopa) de fermento químico em pó

cobertura
- 320g de açúcar refinado
- 100g de chocolate em pó
- 120ml xícara de leite
- 200ml de creme de leite UHT (uma caixinha)

bolo: ligue o forno a 180ºC e unte e enfarinhe uma assadeira média retangular. De resto, mais fácil, impossível: lave bem as cenouras e corte-a em rodelas grossas. Eu não descasco as cenouras, apenas lavo-as bem direitinho, sempre passando uma buchinha dessas de lavar louça que eu tenho separada para lavar meus vegetais.
No liquidificador, adicione todos os ovos, o óleo e as cenouras e bata até não ter mais nenhum pedacinho de cenoura. Acrescente o açúcar refinado, bata mais um pouquinho. Em uma tigela, peneire a farinha de trigo com o fermento e, com o liquidificador ligado, vá adicionando aos poucos a farinha à mistura alaranjada. Se seu liquidificador é muito pequeno, você pode colocar todo o líquido batido no liquidificador em uma tigela, ir adicionando a farinha aos poucos enquanto mexe com uma espátula.
Coloque a massa do bolo na assadeira untada e asse por, em média 45 minutos. Quando o bolo passar no teste do palito, está pronto. Meu professor de Panificação na faculdade, Rogério Shimura, costuma dizer que "forno é igual marido e mulher: cada um tem o seu". Saiba entender seu forno e terá sempre bolos fofinhos e bem assados.

calda: enquanto o bolo está assando, misture o açúcar, o chocolate em pó e o leite em uma panela e leve ao fogo médio. Após levantar fervura, espere mais uns 5 minutinhos e desligue o fogo.
Acrescente o creme de leite, misture bem para incorporar direitinho e, volte a panela ao fogo. Lembrando: creme de leite de caixinha/lata não deve ferver! Então, quando as bordinhas da panela começarem a formar pequenas bolhinhas, desligue o fogo.
Por mais difícil que possa ser, espere a cobertura esfriar um pouco para jogá-la por cima do bolo. Quando esfria um pouco, a cobertura dá uma espessada, fazendo com que ela cumpra seu papel: penetrar pelos buraquinhos do bolo e formar uma casquinha por cima.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Por Dias com Mais Bolos

Aperta o play pra viajar junto...

Aquilo havia de ser solucionado de alguma forma, o problema lhe consumia as energias, lhe devorava todas as esperanças.

Mas o que fazer? Maldita hora que saiu de casa, foi morar sozinha, cadê a mãe quando a gente mais precisa? De certo está dormindo, essa hora deve estar sonhando ter uma filha que resolve as próprias pendências.

Porque isso que era. Parecia-lhe que a vida era toda feita de pendências, a dieta que desandou, a reforma que lhe deixou só uma metade do quarto com tinta nova, a receita do bolo de banana com goiabada que ficou de pedir à avó. Tudo planejado, nada concretizado. As coisas andavam mais embaralhadas do que se podia administrar.

Ah, mas que saco, eu precisava acender um cigarro. Eu, só eu e essa noite de outono indecisa que parece implorar para o inverno que a deixe ser mais fria, enquanto o verão lhe pede que seja brisa... Mas não tem nada nos maços vazios, já estava prometido. Sem cigarros, no máximo nos finais de semana, depois daquela cervejinha na madrugada de sexta feira, um último trago que lhe transformava a promessa de parar de fumar em mais um de seus planos fracassados. Melhor ir atrás de uma xícara de chá.
Abre armário, pega a chaleira sonoramente, bate a porta com força, fazendo o resto das panelas empilhadas caírem de forma a esquematizar uma armadilha ao próximo aventureiro de cozinha que ousar procurar por uma frigideira.

Tic tac, tic tac. Esse tempo que não passa, essa água que não ferve... Mas que merda, que chá o que, eu preciso é de algo doce. Procura, procura, procura... Tinha de haver um daqueles bolinhos industrializados, pacotinho de bolo Ana Maria, uma busca inútil por algo que não haveria ali, isso ela já sabia... Esse é o mal de quem mora sozinho: não há de quem roubar doces quando se precisa devorar fervorosamente uma boa dose de glicose, não existe mais o rocambole de goiabada que o pai comprou pra comer quando chegasse do trabalho.

Mas como se sua vida se bastasse naquilo que viesse pronto da gôndola do supermercado... Vamos lá, se tem uma coisa que aprendeu bem nessa vida foi cozinhar. Abra mais armários, bata mais portas, ai meu pé panela maldita, quem foi o idiota que fechou esse armário e esmagou todas as panelas desse jeito, eu preciso da assadeira que está lá no fundo.

Bolo de cenoura. Bota aqui, mede ali, joga tudo no liquidificador. Eu quero coisa rápida, quero colocar no forno e ir sentar em frente ao computador sem lavar a louça. Talvez pudesse acender um cigarro enquanto espero. Se tivesse cigarros.

Forno pré-aquecido, assadeira untada, assar até o palito sair seco. Não abrir o forno antes de dar 30 minutos, ou o bolo fofinho vira sola de sapato. Abre, preguiça de pegar o palito, vai o garfo mesmo, bolo meio cru, fiz uma cratera no bolo, já era previsto mas a teimosia teimou, fazer o quê. Hora da calda de chocolate.

Tá aí uma coisa que nunca conseguiu se desvincular. Calda de chocolate, daquelas bem ralinhas, que caem e penetram em cada furinho do bolo, deixando aquela mordida com a surpresa de estar toda marmorizada pelo petróleo açucarado no meio e só uma casquinha bem fininha e crocante por cima. Odiava quando queria um bolo de cenoura e lhe vinham com aquele pedação laranja com um brigadeiro mole por cima. Era bom, mas tinha gosto de bolo com brigadeiro. Não tinha gosto de bolo de cenoura fresquinho que a mãe fez e guardou cortado em quadradinhos na Tupperware em cima do fogão, onde as formigas não costumavam atacar.

Quarenta e cinco minutos, cravados, a mãe sempre dizia que se passasse disso o fundo ficaria com aquela crosta beirando o queimado. Espeta o garfo de novo, sai limpinho. Tira do forno joga a calda no bolo fumegante, ela sabe que tem demasiado, mas mente para si mesma, entornando mais calda naquele buraquinho já alagado.

Não tem coisa mais aconchegante do que pedaço de bolo quente. Corta um pedaço e devora-o sentada no sofá. Três vezes.

Está farta, a barriga cheia. Talvez até enjoe durante a madrugada. Mas o coração acalmou. Amanha de manhã a gente pensa em como vai resolver aquele problema. Hoje o dia acabou em bolo. E isso nunca pode ser de todo ruim.

Até se esqueceu da vontade de fumar. Levanta e resolve ir lavar a louça antes de deitar-se. Por incrível que pareça, terminou algo planejado. Fez, assou, comeu, sujou e lavou. Até as coisas mais difíceis podem acontecer repentinamente, quando menos se espera.


Melhor deixar a mãe dormir em paz. Ela deve entender as maluquices que sonha.

terça-feira, 24 de abril de 2012

Cre Cremo Cremo Cremogema é a coisa mais gostosa desse mundo...

Só pra dar aquele charme inicial ao post...


Demorei, mas voltei!
Pois é, a vida anda meio corrida, a promessa de internet mais rápida e com conexão duradoura do servidor novo anda meio fraudulenta, mas a gente luta e aparece!

Gosto muito de ouvir histórias, de contar as minhas, de lembranças nostálgicas... Mas bora viver o presente, né?


Acredito que blog que fala de comida mas que não tem receitas pra compartilhar não merece confiança, muito menos fidelidade! Então, mãos à obra! 

Cheguei a comentar no post de estréia que o Mingau de Cremogema da minha mãe fez história no meu estômago. Por mais que mingau de Cremogema seja, na maioria das vezes, consumido por crianças de até 3 anos, acho que a minha mãe me deu até pelo menos os 10 anos de idade, com toda a certeza. Deve ser por isso que cresci tão forte e saudável rechonchuda.
Mas, como se fosse uma embaixadora da Cremogema, minha mãe não se contentou em nos entupir daquele creminho divino. Ela criou uma receita que, até os dias de hoje, quando preciso rechear algum bolo ou fazer um pavê, ligo pra ela e pergunto quais são as medidas.


                                      


Propaganda da Cremogema dos anos 80. Não me recordo de assistí-la,
mas achei a coisa mais fofa desse mundo!

Então, para a minha surpresa, encontrei esses dias um fichário de receitas que minha mãe me deu quando era mais nova, para que eu pudesse anotar todas aquelas que eu mais gostava. Como de costume, anotei algumas e larguei o caderninho de lado, nunca fui muito boa de organização. Achava mais normal guardar folhinhas rabiscadas com as receitas que anotava correndo enquanto a Cátia Fonseca cantava os ingredientes com mais rapidez do que eu conseguia escrever.
E de repente, folheando as poucas folhas usadas, lá estava ela, a receita do creme aclamado pelo público, líder solitário no quesito comida com colo de mãe.

Minha anotação da receita, de uma época em que
minha letra ainda era bonita.

E pude comprovar que, com a adição de umas gemas aqui, uma farofinha doce ali, o que é muito bom pode tornar-se celestial.


Mummy Crumble Creamy

creme
- 8 colheres (sopa) de Cremogema Tradicional
- 3 xícaras (chá) de leite
- 1 xícara (chá) de leite condensado
- 1 caixinha de creme de leite UHT (aprox. 200g)
- 2 gemas peneiradas
- 1 fava de baunilha ou 10 gotas de essência de baunilha 

farofa
- 3 xícaras (chá) de farinha de trigo
- 1 ½ xícara (chá) de açúcar refinado
- 1 colher (sopa) de fermento químico em pó
 ½ xícara (chá) de manteiga gelada
- 1 ovo inteiro

creme: em uma panela, misture 2 xícaras de leite, o leite condensado, as gemas peneiradas e a fava de baunilha. Separadamente, dissolva a Cremogema na xícara de leite restante e incorpore ao resto dos ingredientes.

Leve em fogo brando até que engrosse. Cubra com plástico filme de modo que este tenha contato com o creme, para que não forme aquela película grossa que a gente tanto ama comer no mingau, mas que não fica muito bacana na receita.

Ao resfriar, na batedeira ou com um fouet, incorpore o creme de leite UHT ao creme cozido, que deve estar bem firme.

farofa: misture primeiramente os secos (farinha, açúcar e fermento) e adicione a manteiga e o ovo em seguida. Mexa com as mãos, até que a mistura se torne uma farofa úmida.

Unte uma refratária ou uma forma pequena, monte com metade da farofa, o creme e o restante da farofa por cima. Leve em forno pré-aquecido 180º.C por aproximadamente 45 minutos.

Ao retirar do forno, a crosta de cima deve estar dourada e crocante. Espere esfriar para cortar, para que o creme readquira sua consistência firme. Sei que é um pouco difícil resistir, mas cortá-la quente só irá fazer meleca.

Corte em quadrados e sirva como quiser. Minha dica é acompanhar com uma colherada de geléia de frutas vermelhas. Fica lindo. Tanto pro olhos quanto pro estômago.

Dica do dia: comida tem a ver com memória. Música tem a ver com memória. Quer coisa mais gostosa que juntar os dois?
Experimente ouvir músicas como The Show, da Lenka enquanto engrossa esse creme no fogão. Dá a sensação de estar cumprindo uma missão muito importante e aconchegante, como se você tivesse uma legião de crianças esperando pelo seu doce, todos fazendo fila para pegar um pratinho com um quadrado de Mommy Crumble Creamy.
                                     
Lenka tem a voz tão macia que chega a ser cremosa.


quinta-feira, 19 de abril de 2012

Pela memória, com afeto.

Não tinha lasanha, mas tinha sashimi.

Novos ares! Uh la la! Como é bom cheirinho de coisa nova, de feijão fresco ficando pronto...
Opa.
Pera lá. Feijão fresco? Mas que diabos de cheiro de feijão fresco ficando pronto... Desde quando cheiro de feijão fresco me deixa feliz?

Minha realidade é outra. Não que eu não goste de feijão fresco, eu amo feijão fresco, mas o que me deixa feliz mesmo é cheiro do vaporzinho que sai da panela elétrica fazendo meu gohan... Sim, arroz japonês, papa, unidos venceremos... Aposto que você vai falar que arroz japonês tem cheiro de água. Azar o seu, pra mim tem cheiro de amor.

Aí você mistura tudo de uma vez, joga gohan com furikake, lasanha que a mamãe fez pro dia dos pais, bife à parmegiana, sopa de abobrinha, lámen da batchan e uma pitada de mingau de Cremogema fazendo casquinha pra gente se enganar que o creminho tá todo frio já. Queimei a língua mas alimentei o coração.

Em certa entrevista, Nina Horta declarou que "Vive-se até sem amor, mas não sem comer." Deus me perdoe por contrariar os (extremamente) mais sábios, mas eu descordo. Sobrevive-se até sem amor, mas não sem comer. Porque comida tem a ver com o coração, a alma sente fome também. E se não for assim, pra mim não vale a pena.

Porque eu gosto da comida com jeitinho de colo de mãe, da garfada que me faz fechar os olhos e ir pra outro planeta, da saudade que me dá da infância no clube quando sinto cheiro e barulho de pessoas fazendo churrasco. De fazer huummmm e ser chamada de Ana Maria Braga.

E como por me achar prolixa demais e as vezes até profética, acho que tudo que se é postado na internet, deve ter uma foto pra acompanhar. Afinal, estamos na era da tecnologia, faça tudo por nós, abra-te Sésamo, ler é enfadonho e cozinhar pra quê se já inventaram Hot Pocket?
Quatro meses viciada em requeijãoNão sou mineira mas sempre adorei um pão de queijo!

Então esta é a minha idéia inicial. Meu pontapé desesperado para ser certeiro, a primeira vez que testo uma receita. Eu vou ficando por aqui, esperando que cada palavrinha que aqui for lida chegue com gostinho de quero mais e com a alegria de um prato fumegante chegando à mesa.
Porque das certezas desse meu mundo, há uma que considero a mais confiável: meu estômago parece pensar demais e a minha mente tem fome de tudo. Disso aí coisa boa não pode dar.

Ou pode?
Querem pagar pra ver? Ou pra comer? Com os olhos?
E com a alma, por favor.


Bora acabar com esse post logo que as coxinhas tão se querendo pra mim.
Ah, essa é a Batchan, rainha do Lámen.