sexta-feira, 8 de junho de 2012

A Poesia de Nigella

Tem dias que a gente acorda com aquela sensação de que a vida anda tão boa. De que a vida é muto boa.
Eu tenho visto por aí, naquelas lojas de adesivos decorativos para parede, as "Receita de Felicidade", "Receita de Amor" e outros passo-a-passo de como encarar nossa jornada de um jeito leve e aerado. Sentimentos viram ingredientes e há modos de preparo onde mistura-se tudo que há de bonito nessa vida para colocar dentro do coração e levar como lição para nossa alma crescer e transbordar da forma.
E em dias como os de hoje, frio, chuvoso mas com aquela sensação de xícara fumegante de capuccino, não há nada mais gostoso do que preparar o café da manhã para se comer na frente da televisão.
E foi o que fiz hoje. Acordei, preparei meu desjejum e fui para o sofá. Nigella era, de longe, a programação que mais fazia sentido ver naquele momento.

Quem vê essa foto até pensa na Nigella comendo como uma dama, né?

Sempre tive um pé atrás com a Nigella, achava toda sua conduta na cozinha um tanto quanto errônea. Como estudante de Gastronomia, a gente fica barbarizada com tantos dedos lambidos e atalhos para se perder menos tempo mexendo panelas. Um horror, quase um insulto a todas nossas noções de higiene e horas a fio gastas com preparações deliciosas.
Mas de uns tempos pra cá eu tenho a visto com olhos mais carinhosos. Percebo na Nigella um amor incondicional pelo gosto, por todas as surpresas que nosso paladar tem a nos oferecer. Há uma relação quase que personificada com os momentos, um prazer tão grande quando ela come que aos olhos mais tradicionais chega a ser obsceno, que quando se deixa de lado as frescuras, que são EXTREMAMENTE necessárias em cozinhas profissionais, mas que deixamos um pouquinho (mas só um pouquinho, tá? Ainda acho que às vezes a Nigella dá uma extrapolada) quando cozinhamos em casa, podemos enxergar nela. Há um carinho de cria e criador e, principalmente, um sentimento de aconchego que a comida nos dá que a Nigella consegue expressar muito bem e que nos dá vontade de sair por aí chamando todo mundo que aparece na rua de casa pra comer e oferecer um pouco de hospitalidade.
Eu acho muito bonita essa inversão de papéis. Eu, no meu amor pela cozinha com minha paixão pela escrita, quando vejo receita virando poesia e poesia virando modo de preparo, sinto um sopro levinho inflando o coração. Coisa boa.

E por mais que na maioria das vezes a vida pareça muito corrida, ela ainda é boa. É isso que as tantas "Receitas de Felicidade" e o modo como a Nigella leva a vida nos faz repensar. Na verdade, a gente não precisa se preocupar, a gente precisa é viver.
Como eu, que ando com a cabeça mais ocupada que o corpo, o que dificulta muito conseguir vir aqui com mais frequência contar alguma idéia maluca que me passou pela cabeça e com a invenção de novas receitas pra compartilhar. Mas nem por isso vou deixar passar em branco. Tá aí uma receita da Nigella, pra testar, pra fazer, pra achar que não vai dar certo ou só pra passar o que eu estou tentando dizer, pra mostrar a serenidade que há num bolo como esse.

Quem vê a Nigella sabe como ela foi encorpando ao longo de suas temporadas.
Tá aí outra coisa bonita pra se admirar nela: há uma paixão por comer sem culpa, 
que dá até inveja.

Se interessou pelos adesivos de parede com receitas de como ser feliz?
Aqui vai um exemplo, mas se você procurar na internet vai achar tantos outros tão bonitinhos quanto esse. Meio clichês, mas bem fofinhos.